CENARIO
Logo Diario X
Aqui tem a Verdadeira Notícia
16 de junho de 2024
Coxim
24ºC

Meio Ambiente

Projeto no Rio Taquari envolve obras em área equivalente ao Catar

Condição única no mundo e problemas acumulados durante décadas fazem a restauração do curso do rio ser de longo prazo, apontam estudos feitos na região

17 MAI 2023Por Redação/EC20h:59

Um grupo de pesquisadores, fazendeiros, comunidade de pescadores e entidades procurou identificar os reais problemas do Rio Taquari e as soluções que podem ser aplicadas na recuperação desse local que possui características únicas no mundo. 

Esse trabalho resultou em um estudo amplo, com 186 páginas e que foi concluído em 2006, mas nunca conseguiu sair do papel. 

A erosão e a deposição de sedimentos transformaram o Rio Taquari em um sistema instável e ramificado, e o maior problema identificado foi a inundação permanente de uma região de cerca de 11 mil km², área equivalente ao Catar, país que sediou a Copa do Mundo em 2022.

O tema envolvendo o Rio Taquari recebeu destaque em 2021, mas não avançou. Agora, voltou a ganhar força neste ano, depois que a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), pontuou que as cifras astronômicas envolvidas para recuperar o rio podem ser obtidas a partir de financiamentos em bancos multilaterais, como o BID, Focem e Fonplata.

Ela mencionou a intenção de retomar o projeto durante visita a Campo Grande, na segunda-feira. 
Os danos causados no Rio Taquari atingiram as sub-regiões dos Paiaguás e da Nhecolândia e tiveram repercussão econômica e social com cifras milionárias. 

Por conta da inundação permanente, áreas que eram secas passaram a ficar com água praticamente durante todo o ano. Houve o declínio das populações de peixes e uma diminuição das áreas que tinham criação de gado.

De acordo com esse estudo apresentado no Fórum Mundial da Água em 2006, que envolveu pesquisadores da Embrapa Pantanal e dos institutos holandeses Wageningen University & Research e Wageningen Environmental Research, também chamado de Alterra, o tamanho da Bacia do Alto Taquari é de 29 mil km² (quase a área da Bélgica), e a área do leque aluvial no Pantanal é de cerca de 5 mil km². 

Esse trabalho científico destacou que o Rio Taquari, localizado em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, possui o maior leque aluvial (depósito de sedimentos ou fragmentos de rochas) do mundo e representa um dos principais afluentes do Rio Paraguai, com 16% de contribuição para formar o Pantanal.

O acúmulo de problemas na região começou a se formar na década de 1970, quando houve uma maior colonização e perda de vegetação arbustiva de áreas secas. 

Essa condição acabou acelerando a sedimentação em diferentes trechos dos 800 km do Rio Taquari, que possui uma característica de ter um solo mais frágil e propenso a erosões. 

Depois, ocorreram os chamados arrombados, que são fechamentos de canais do rio. Esses processos podem ser feitos de forma natural, bem como por ação humana. 

Na década de 1980, o primeiro arrombado foi o Zé da Costa, que mudou o curso do rio de sua foz em 70 km.

Já na década de 1990 surgiu o arrombado do Caronal. Conforme o Instituto Taquari Vivo, que atua na região com projetos de recuperação, uma área de 650 mil hectares ficou completamente alagada com o advento do Caronal, tornando muitas fazendas improdutivas por estarem totalmente embaixo d’água. 

“O manejo da água para uso múltiplo é muito importante, mas difícil de pôr em prática especialmente em áreas vastas como o Pantanal, onde a água não é somente um fator local, mas também regional. A água é a ligação de tudo no Pantanal. Se existirem problemas com a água, esses não terão apenas um componente local, mas também um importante componente regional. 

No Pantanal, a água é um tesouro porque é a base da vida e a existência do homem e da biodiversidade”, descreveram os pesquisadores no trabalho intitulado “Pantanal-Taquari: tools for a decision support system”.

Ao longo de dois meses da pesquisa de campo, além de estudos diversos que envolveram cientistas do Brasil, da Holanda e da Argentina, bem como reuniões com fazendeiros, comunidades de pescadores e instituições que atuam na região, o trabalho da Embrapa Pantanal e Alterra, do qual estiveram à frente Carlos Padovani e Rob Jongman, indicou nove propostas de atuação para o governo federal e interessados. 

Na lista de ações, praticamente todas envolvem atividades de longo prazo, com resultados a serem obtidos a partir de 10 anos até 30 anos de duração. 

A complexidade do tema exige postura mais assertiva de governos e diálogo com pecuaristas e comunidade. Tantos ingredientes diversos fizeram a proposta não sair do papel até hoje, 18 anos após as conclusões. 

Entre os temas mais polêmicos está a compensação financeira dos fazendeiros pela inundação. Além disso, as cifras para recuperação estão na casa dos milhões de reais. Conforme Simone Tebet, o projeto atualmente em análise estaria em cerca de R$ 500 milhões. 

A proposta de 2021 previa investimento de R$ 105,8 milhões, mas o valor não foi liberado em projeto apresentado à Caixa Econômica Federal. Na época do estudo, caso todas as 9 propostas fossem implementadas, o valor previsto era de R$ 497 milhões. 

Em valores corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), esse total seria agora equivalente a mais de R$ 1,325 bilhão. 

“As soluções técnicas [intervenções no Pantanal] parecem muito caras e sem
perspectiva quando não há uma gestão coerente dos rios da bacia”, concluíram os pesquisadores da Embrapa Pantanal e Alterra.

Rodolfo Cézar, de Corumbá/Correio do Estado

 

M9

Leia Também