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Taxa rosa: tudo que é feminino custa mais caro

Por que mulheres pagam mais pelos mesmos produtos? Você já ouviu falar no "custo rosa"?

31 JAN 2024Por Redação/EC13h:55

A história da noiva que contratou maquiagem social e omitiu que seria seu casamento para não precisar contratar o pacote de noiva, acendeu uma discussão necessária: você já ouviu falar no “custo rosa”?

A taxa rosa é o plus de custo que pagamos a mais pelos mesmos produtos, porém destinados às mulheres. Se você comprar ibuprofeno na farmácia, o comprimido normal custa R$10, mas o FEM, indicado para cólicas menstruais, custa R$20. Aparelho de barbear, o amarelo custa R$10 mas o rosa, teoricamente indicado para peles femininas, custa R$30.

Roupa de menina custa mais caro, laços de fita, chapéus, bolsinhas, bonecas, Barbies, cozinhas de brinquedo, tudo mais caro que bolas e carrinhos. Uma camiseta masculina custa R$50, uma blusa feminina não sai por menos de R$89. Shampoo, condicionador, máscara de cabelo, todo cosmético para a mulher custa o dobro do preço. Do pijama ao chinelo, tudo que for rosa tem acréscimo de preço.

A Pink Tax é objeto de estudo no mundo todo, especialmente em países com níveis maiores de consumo, como os EUA – nesse recorte de realidade temos um acesso maior a produtos de grife, perfumes refinados, alta costura. 

No Brasil, uma pesquisa da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) aponta que produtos cor de rosa ou com personagens femininos custam, em média, 12,3% a mais que os outros. O estudo também aponta que roupas de bebê femininas encarecem mais de 20% em relação às masculinas.

E precisamos ir além: produtos de uso exclusivo para mulheres, como absorventes, não são itens baratos, embora de primeira necessidade. Tanto que, após anos de discussões e trâmites em Brasília, apenas este ano a farmácia popular vai finalmente começar a distribuição de absorventes para mulheres e meninas em situação de pobreza menstrual.

Nessa conta podemos adicionar outros custos que vêm de questões culturais: você já fez o teste de levar seu carro no mecânico sozinha, e depois, um homem levar o mesmo carro em outro mecânico? Eu te garanto, a menos que o profissional seja muito, mas muito honesto, o orçamento para a mulher será mais caro.

O corte de cabelo para um homem no salão usando estrutura, técnica, produtos, chapinha, secador e finalizador, vai custar X. O corte feminino no mesmo espaço, usando os mesmos recursos, vai custar o dobro. Se colocarmos na ponta do lápis, o único ponto que impacta realmente no custo do salão é a quantidade dos produtos usados no cabelo, que se o da mulher for curto, ainda dá elas por elas. No final, o cara corta o cabelo, faz as unhas e ainda toma uma cerveja pagando menos que um corte de pontas feminino.

O homem paga R$40 em um pacote com 3 cuecas, mas um conjunto de lingerie feminina não sai por menos de R$300. Um homem consegue se vestir para um casamento comprando um terno de R$700 e um sapato de R$300, usando uma camisa branca que já tem. A mulher vai gastar R$1.300 para alugar um vestido, R$400 na sandália, R$250 na bolsa, mais R$400 para maquiagem e cabelo.

Todo o marketing de produtos para a casa é feito pensando na mulher: desde enxovais caríssimos, lençóis de milhões de fios, toalhas, bordados, eletrodomésticos, aromatizadores de ambiente, até produtos de limpeza. Lojas de decoração, floriculturas e pet shops são nichos de mercado voltados para o consumo feminino. Toda essa estrutura é pensada para uma mulher que tenha um provedor e possa gastar esse dinheiro extra, que não seja retirado do orçamento de contas básicas.

Isso tudo seria uma questão de mercado para se estudar, se não tivéssemos nessa conta o fator econômico e social da mulher brasileira: salários menores, empregos que pagam mal e trabalho doméstico não-remunerado. Mulheres gastam mais para viver e recebem menos. 

Trabalhos femininos como atendente de telemarketing, recepcionista, secretária, babá ou empregada doméstica, não têm plano de carreira nem perspectiva de crescimento real.

Poderia acrescentar aqui o fator evasão escolar, da moça que engravida e é abandonada pelo pai da criança, sendo obrigada a largar os estudos, abrir mão da faculdade e de uma carreira que lhe permita ganhar melhor. No Brasil, hoje, são mais 11 milhões de mulheres nessa condição.

A Pink Tax não é um conceito novo, pelo contrário, faz parte de uma grande roda que inclui a cultura da insatisfação com a própria imagem, um conceito oferecido a todas nós desde a infância. Mulheres são socializadas para se detestarem, e assim consumirem desde remédios para emagrecer e cirurgias, até cosméticos caríssimos e procedimentos estéticos que prometem a juventude eterna que a sociedade nos cobra.

Essa conversa vai muito além do consumismo. Existe uma cadeia gigantesca de lucro alimentada pelo custo rosa, pela literal venda de necessidades às mulheres. Tenho esperanças de que o desprendimento da geração Z impacte também em um comportamento feminino mais livre no futuro, de mulheres que diante dessas imposições, encham o peito para responder de boca cheia um sonoro “Não sou obrigada”.

Jaqueline Naujorks/Primeira Hora

M9

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