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Charlie Hebdo publica charge de Erdogan, e presidente turco reage: 'canalhas'

Governo turco diz que vai tomar 'todas as medidas legais e diplomáticas necessárias'. Reação à caricatura ocorre em meio a tensões sobre charges com a imagem do profeta Maomé.

28 OUT 2020Por Redação/TR18h:22

A revista satírica "Charlie Hedbo" publicou uma charge do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, na capa da edição de quarta-feira (28), e a reação foi imediata: Erdogan chamou o periódico de "canalha" e o governo turco disse que vai tomar "todas as medidas legais e diplomáticas necessárias".

A caricatura retrata o presidente turco sentado em uma poltrona, de cueca e com uma lata na mão, levantando a roupa de uma mulher que não usa roupas íntimas e está com véu. Na imagem, Erdogan está com a língua de fora e fala "o profeta", enquanto a mulher está sorrindo. No alto, está escrito: "No privado, ele é muito divertido".

As principais autoridades do país condenaram a caricatura, chamando-a de um "esforço nojento" para "espalhar racismo e ódio cultural", e a mídia estatal informou que promotores turcos iniciaram uma investigação sobre os executivos do "Charlie Hebdo".

"Nossa batalha contra essas medidas rudes, mal intencionadas e insultuosas continuará até o fim, com razão mas com determinação", afirmou o diretório de Comunicação do país. O porta-voz do presidente turco, Ibrahim Kalin, afirmou que a caricatura não pode ser considerada liberdade de expressão.

A Turquia e França vivem há dias uma escalada de tensões, com Erdogan pedindo boicote a produtos franceses e ofendendo o presidente do país, Emmanuel Macron.

Professor decapitado

O imbróglio ocorre após a morte de Samuel Paty. O professor foi decapitado por um terrorista por exibir uma caricatura de Maomé, publicada anos atrás pelo Charlie Hebdo, em uma aula sobre liberdade de expressão.

Caricaturas do profeta Maomé são considerados blasfêmia pelos muçulmanos, e a revista satírica foi alvo de um atentado terrorista em 2015, que deixou 12 mortos e 11 feridos, após publicação de charges com a imagem de Maomé (veja mais abaixo).

Mas a morte de Paty causou comoção em toda a França. Milhares saíram às ruas em Paris para homenagear o professor, ele recebeu a maior honraria do governo francês, a "Legion d'Honneur", e Macron afirmou no funeral de Paty que "não renunciaremos às caricaturas".

"Nós continuaremos, professor. Nós defenderemos a liberdade que você ensinava tão bem e nós levaremos a laicidade. Nós não renunciaremos às caricaturas e aos desenhos", afirmou Macron.

Manifestantes se reúnem na Praça da República, em Paris, no domingo (18) para marchar em homenagem ao professor de história decapitado em um ataque extremista — Foto: Michel Euler/AP

Manifestantes se reúnem na Praça da República, em Paris, no domingo (18) para marchar em homenagem ao professor de história decapitado em um ataque extremista — Foto: Michel Euler/AP

Reação muçulmana

Mas houve reações contrárias em diversos países de maioria muçulmana. No fim de semana, Erdogan criticou duramente Macron e afirmou que o líder francês precisava de um exame de saúde mental, o que levou a França a chamar de volta seu embaixador em Ancara.

Na segunda-feira (26), o presidente turco pediu um boicote aos produtos franceses, e o presidente francês rebateu dizendo que redobraria os esforços para impedir que as crenças islâmicas conservadoras subvertessem os valores franceses, irritando muitos muçulmanos.

Na quarta-feira (28), Erdogan afirmou que os países ocidentais que atacam o islamismo querem "relançar as cruzadas" e que permanecer contra os ataques a Maomé era "uma questão de honra para nós".

O presidente do Egito, Abdel-Fattah al-Sisi, afirmou hoje que a liberdade de expressão deveria parar de ofender mais de 1,5 bilhão de pessoas. Mas al-Sisi disse que rejeita firmemente qualquer forma de violência ou terrorismo, de qualquer pessoa, em nome da defesa da religião, de símbolos religiosos ou de ícones.

Já o imã da Mesquita de al-Azhar e reitor da universidade de mesmo nome, o xeque Ahmed al-Tayeb, apelou à comunidade internacional para criminalizar ações "anti-muçulmanas".

Defesa à França

Em meio à escalada de tensão, o chanceler da Grã-Bretanha, Dominic Raab, pediu aos aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que se posicionem lado a lado nos valores de tolerância e liberdade de expressão.

A declaração foi uma repreensão velada à Turquia, que é membro da Otan. "O Reino Unido se solidariza com a França e o povo francês após o terrível assassinato de Samuel Paty", disse Raab em um comunicado. “O terrorismo nunca pode e nunca deve ser justificado".

"Os aliados da Otan e a comunidade internacional em geral devem estar ombro a ombro com os valores fundamentais da tolerância e da liberdade de expressão, e nunca devemos dar aos terroristas o presente de nos dividir", afirmou Raab.

Atentado ao Charlie Hebdo

Várias pessoas morreram e 11 ficaram feridas no ataque à sede do Charlie Hebdo, em Paris, em 7 de janeiro de 2015.

O escritório da revista satírica já havia sido alvo de um ataque antes, e em setembro deste ano um outro atentado terrorista deixou duas pessoas gravemente feridas perto do local.

A redação do periódico, no entanto, mudou para um local não informado depois do atentado de 2015, por questões de segurança.

O ataque mais recente ocorreu na época do julgamento de 14 acusados de cumplicidade pelo ataque terrorista.

Por: G1

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