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Valdir Silva

Coluna

O lado B

13 DEZ 2020Por Valdir Silva10h:00

Caravaggio foi um dos mais importantes pintores italianos, muito atuante em Roma, Nápoles, Malta e Sicília entre 1593 e 1610. A técnica artística de Caravaggio, uma inovação para a época, se baseava no tenebrismo - técnica em que consiste usar um absoluto contraste de luz e sombra na composição de sua obra.

O contraste entre as áreas de tom claro e escuro dão um sentido de drama para a composição, trazendo uma espécie de holofote em detalhes onde o artista quer a atenção do espectador para se concentrar.

Distanciado por séculos e tipo de arte, técnica e composição, Kobra - muralista de renome mundial - inaugurou em Coxim um muro na praça Zacarias Mourão. A inquestionável beleza de sua arte fez do local um ponto de visitação. O lugar já estava embolorado na memória dos coxinenses, visto apenas como lugar onde fica a árvore que um dia Zacarias Mourão plantou na terra "fofa do chão".

Assim como nas obras de Caravaggio a praça Zacarias Mourão também tem o seu contraste: de um lado a beleza do "mural do Kobra", de outro, um lote com uma casa quase abandonada, outrora um museu arqueológico.

O contraste de cores e tonalidades nas obras de Caravaggio traziam um drama à tela. Em Coxim, muitos artistas manifestaram o seu drama ao se sentirem pouco prestigiados pelo fato de trazer um "artista de fora" para algo que deveria ser tratado por "mãos coxinenses", acreditam eles.

Não faltaram também questionamentos sobre o valor da obra (R$ 210 mil reais). As batalhas, por longos dias, fizeram dos grupos de WhatsApp arena de digladiação dos que defendiam e os que criticavam a iniciativa (não a obra) do Poder Público. O que se via (ou melhor, se lia) era uma verdadeira "masturbação retórica" para defender seus pontos de vista e para amealhar signatários de suas teses.

O prodigioso Kobra, que nada mais fez que um trabalho para o qual foi pago, ajudou (sem querer, é claro) a reacender o debate para a ausência de políticas públicas voltadas para a cultura. Kobra pinta muros, políticos pincelam a realidade e, tais quais Caravaggio, a "pintura política" é cheia de dramas.

O "mural do Kobra" encanta os olhos, mas será que tem a capacidade de analgesiar a mente frente a 8 anos de inércia administrativa?

No apagar das luzes de uma administração um muro fez um ensaio de que houve um legado para a cultura coxinense. Talvez a lógica desse mandato seja exatamente o contraste tenebrista de Carravagio: 8 anos versus algumas semanas - e os nossos olhos se voltam para apenas as semanas finais.

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