Coxim MS
Velas com fragrância do Pantanal mudam a vida de empreendedora de Coxim e ganham o mundo
Após fechar a floricultura durante a crise sanitária da Covid-19, Adriana Neves encontrou no artesanato aromático um novo caminho com identidade regional e apoio do Sebrae/MS
No fim de 2020, em meio à crise sanitária da Covid-19, a vida de Adriana Neves Costa, de Coxim, tomou um novo rumo. Após perder o pai, acumular dívidas e fechar a floricultura que mantinha havia mais de três anos, ela decidiu recomeçar com o que tinha: coragem. Para dar o primeiro passo, organizou uma rifa, arrecadou dois mil reais e investiu em materiais para fabricar velas aromáticas.
“Fechei a floricultura sem dívidas, mas sem nenhum real. Eu não sabia mais o que fazer. Só tinha coragem”, relembrou.
O nascimento da Amada Luz
Inspirada por uma loja de velas que conheceu em sua cidade natal, Mogi das Cruzes (SP), Adriana decidiu arriscar. Aprendeu tudo assistindo a vídeos na internet. “Foi um desastre. Quase desisti. Mas sabia que queria fazer algo diferente. Algo que representasse o Pantanal, que é onde eu realmente me reencontrei”, reforçou.
Assim nasceu a Amada Luz, marca de velas artesanais com fragrâncias inspiradas na fauna e flora pantaneira. São mais de 13 aromas exclusivos, desenvolvidos com laboratórios especializados. Cada vela carrega um pouco da história da empreendedora e sua conexão com Coxim.
Entre as criações, destaca-se a vela Taquari, que utiliza galhos do rio de mesmo nome e elementos que representam animais como o tuiuiú, tucano, arara, capivara, tamanduá e onça-pintada. “Quando eu sento na Praça Noêmia Serrou Camy, também conhecida como "Praça do Flutuante" e vejo as aves se alimentando às margens do rio, aquilo me inspira. É dali que vem tudo”, reforçou.
O apoio do Sebrae e o selo Made in Pantanal
O ponto de virada veio quando Adriana conheceu o programa Cidade Empreendedora, executado pelo Sebrae/MS em parceria com a Prefeitura de Coxim. Inicialmente, hesitou em participar, achando que haveria custos. “Fugi do consultor Fábio como o diabo foge da cruz. Eu achava que ele queria arrancar dinheiro de mim”, lembrou.
Mas ao conhecer a proposta, se emocionou. “Quando ele me mostrou a plataforma Made in Pantanal e disse que eu não teria que pagar nada, eu desci chorando as escadas do Sebrae. Foi quando tudo mudou”, contou.
Com o apoio da instituição, Adriana recebeu capacitações em áreas como vendas, fluxo de caixa, gestão financeira, identidade de marca e atendimento ao cliente. Também participou de consultorias em design de produto e embalagem. O reconhecimento veio com o selo Made in Pantanal, que certifica a origem cultural e sustentável da produção.
Identidade, inovação e propósito
As fragrâncias da Amada Luz são desenvolvidas com ingredientes naturais e regionais, como a flor do pequi. “Não como pequi, mas me apaixonei pelo cheiro da fruta. É como abrir o fruto no meio do cerrado”, descreveu.
As velas possuem design diferenciado, com cores, formatos e elementos que remetem ao bioma pantaneiro. “Quem olha pensa que é só uma vela. Mas ali está meu amor por Coxim, pelo Pantanal. É a minha história que está sendo contada”, ponderou.
Protagonismo feminino e inspiração
A trajetória empreendedora de Adriana também teve impacto pessoal e familiar. Ela deixou o emprego no Hospital Regional e passou a viver da produção das velas. “Eu me sinto mais bonita, mais forte. Me sinto conquistadora. E o mais incrível é ver minha filha, de 12 anos, repetir esse amor. Ela vende as velas como se fossem dela”, relatou.
Durante eventos em diferentes regiões do país, Adriana inspira outras mulheres. “Empreender é como fazer uma horta. O mais difícil é pegar a enxada. No nosso caso, a enxada são os medos, as vozes que dizem que não vai dar certo. Mas quando a gente pega, vai”, reforçou.
"Você colocou o Mato Grosso do Sul dentro de uma vela"
Um dos momentos mais marcantes aconteceu em um evento em Campo Grande. Uma cliente escolheu uma vela com onça e tuiuiú, olhou nos olhos da artesã e disse: “Você conseguiu colocar o Mato Grosso do Sul todinho em uma vela.” A mulher, que viajava com frequência para a Suíça, afirmou que levaria a peça como presente ao filho. “Ela disse que minha vela era digna de ir para o mundo. E eu chorei. Ela também. Foi fora do normal”, contou emocionada.
Sonhos que não param de crescer
Hoje, Adriana trabalha para expandir os negócios. Está em processo de regularização para exportar seus produtos e desenvolve novas fragrâncias — entre elas, uma linha para casais e a reformulação de um aroma em parceria com outra artesã do selo Made in Pantanal.
“Quero crescer, contratar, ter gente comigo. Me permiti sonhar grande. E vou realizar”, destacou.
Artesanato como ferramenta de transformação
Segundo o Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB), Mato Grosso do Sul conta com 6.690 artesãos ativos. Muitos ainda atuam na informalidade, mas o setor é reconhecido pelo Sebrae como estratégico dentro da economia criativa, por promover inclusão, valorização cultural e geração de renda.
“O artesanato aqui de Coxim fala do Pantanal, da nossa essência. Mas muitos ainda não acreditam que podem crescer, que são capazes. Eu sou prova de que podem. Eu não fiz curso, não tinha dinheiro, só tinha vontade. E hoje, minhas velas contam minha história para o mundo”, reforçou Adriana.
Ides/ JWC