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Saúde

Maridos que não se interessam mais por sexo

"Uma boa transa sempre nos leva a desejar a seguinte. Evitar a intimidade sexual e não ter orgasmo tira essa fissura, retroalimenta o desinteresse", diz especialista

25 FEV 2022Por Redação/TR14h:39

Resolvi escrever essa coluna depois de ouvir relatos de mulheres sobre o desinteresse de seus maridos por sexo. Esses homens, na faixa dos 60 ou 70 anos, não têm casos, não são infiéis, mas excluem a intimidade física da vida do casal. E, quando falo de sexo, não me refiro apenas ao ato que envolve penetração – na verdade, eles vão se retraindo e evitam qualquer tipo de toque ou carícia, deixando suas parceiras frustradas e angustiadas. Para destrinchar o assunto, contei com a ajuda inestimável de Cristina Werner, delegada estadual da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana no Rio de Janeiro e mestre em psicologia clínica pela PUC-Rio, com especialização em Gênero e Direito pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro.

Por que há maridos que deixam de fazer sexo?

Cada casal tem seu ritmo e frequência de relações, que tende a diminuir com o tempo, mas, acima dos 60, é razoável fazer sexo entre uma vez por semana até a cada 15 dias. Quando os homens apresentam um quadro de total desinteresse, a condição é chamada de disfunção ou transtorno do desejo sexual hipoativo (DSH). É preciso levar em conta que a sexualidade é composta por três elementos: o físico/biológico; o social; e o afetivo. A primeira investigação a ser feita é a dos níveis hormonais, porque a testosterona é fundamental para manter o desejo masculino. Se as taxas esperadas para a faixa etária estiverem baixas, pode ser que ele esteja entrando no chamado distúrbio androgênico do envelhecimento masculino e talvez precise fazer algum grau de terapia de reposição de testosterona. Temos que lembrar que a resposta sexual engloba desejo, excitação e orgasmo e, se há deficiência hormonal, a cadeia toda ficará comprometida. Indivíduos entre 55 e 75 anos foram criados numa cultura na qual o homem toma a iniciativa e procura a mulher para transar. Se deixa de desempenhar esse papel, ela, também acostumada a não procurar, acaba não se sentindo desejada, amada. Mas alguém tem que começar! Uma boa transa sempre nos leva a desejar a seguinte. Evitar a intimidade sexual e não ter orgasmo tira essa fissura, retroalimenta o desinteresse. Pesquisas mostram que os homens levam de três a cinco anos para buscar ajuda, e muitos são levados pelas companheiras.

Por que os homens têm tanta dificuldade para expressar seus temores e ansiedades – como o medo da impotência, ou de sofrer um infarto durante a relação – e rechaçam a ideia de procurar um especialista? Como superar o impasse?

Desde muito jovens, as mulheres vão ao ginecologista, uma especialidade voltada para a concepção e contracepção, mas também para a sexualidade feminina. Não existe algo equivalente para eles. Embora boa parte dos urologistas já tenha incorporado uma visão da sexualidade em sua atuação clínica, eles não são só médicos de pênis, mas de toda parte do aparelho urinário, inclusive de mulheres! Além disso, ainda há poucos andrologistas. O pior é o homem associar ereção à virilidade e à hombridade, são coisas bem distintas.

E quais são os outros fatores que estão por trás desse comportamento de distanciamento?

Voltando aos três elementos da sexualidade, além do aspecto físico, temos a questão das relações sociais, que envolvem a vida externa. Quando o homem se aposenta, com frequência enfrenta uma situação de estagnação. Também pode perder amigos, pessoas com as quais compartilhava suas histórias. A pandemia piorou este cenário de isolamento. Sempre sugiro a meus pacientes que busquem uma motivação: um curso, uma nova profissão, trabalho voluntário. Libido é energia de vida, não só sexual, por isso importa tanto o momento que você está vivendo. Por último, o terceiro vértice do triângulo é o afeto. Parceria é dar e receber carinho e o casamento vai sofrendo desgaste natural. Homens têm mais dificuldade em pedir perdão, enquanto as mulheres se desculpam até quando não deveriam, o que gera um nó na relação, porque há mágoas que são carregadas durante anos. Se o antigo olhar de admiração feminino deixa de existir, o marido se sente diminuído. Nós construímos nossa velhice, tijolinho por tijolinho, a cada dia – ela vai depender da argamassa que usamos. Se ele nunca foi atencioso, se nunca esperou que sua mulher tivesse um orgasmo, talvez não encontre mais aquela parceira de antes, resignada e paciente. Na velhice queremos colher dividendos, não dívidas.

Há mulheres que se sentem rejeitadas e sofrem; outras dizem não se importar, embora o sexo alimente o relacionamento. Nos dois casos, é comum que os casais se afastem. Como contornar o problema?

As pessoas encaram com preconceito o casal dormir em quartos separados, mas a situação pode até ser boa para retomar a intimidade. Cria um clima para o encontro, algo como: “essa noite vou te visitar”! Ter um dia marcado para o sexo alimenta o romance, a expectativa, a sedução. A rotina do dia a dia deserotiza a relação; não deveríamos deixar o sexo para a hora de dormir, quando estamos mais cansados. Isso sem contar os medicamentos utilizados nessa fase da vida, que muitas vezes diminuem a libido.

Ainda persiste o tabu em relação aos brinquedos sexuais?

Quem tem menos de 40 anos encara seu uso com maior liberalidade. A própria pandemia aumentou a venda dos acessórios em 40%, mas um brinquedo erótico é apenas isso: um acessório para apimentar o relacionamento, e não para competir com a parceria. O corpo do outro não deve ser substituído, e o prazer do outro nunca deveria ser ignorado.

Mariza Tavares — Rio de Janeiro

 

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