Meio Ambiente
Onça-pintada 'cheia de energia' tenta brincar com a mãe e é completamente ignorada no Pantanal
Os felinos vivem no Pantanal e foram registrados por um biólogo de uma Organização Não Governamental (ONG) que atua na região.
Uma onça-pintada, ainda filhote, não teve uma tarde tão animada quanto desejava, no Pantanal de Mato Grosso do Sul. O biólogo Pedro Henrique Pozzi registrou o momento em que a pequena Turi tenta brincar com a mãe Fera, mas é completamente ignorada.
A cena foi divulgada este mês nas redes sociais da Organização Não Governamental (ONG) Onçafari, onde Pedro atua. A ONG acompanha os felinos no Refúgio Ecológico Caiman, na região de Miranda (MS), local onde as duas foram vistas.
Apesar do registro ter sido divulgado recentemente, as imagens foram feitas quando Turi ainda era filhote e vivia junto à mãe. Atualmente, a onça-pintada já atingiu a vida adulta e vive independente no Pantanal. O biólogo e guia de turismo, Bruno Sartori Reis, explica o comportamento durante esta fase da vida dos felinos.
Apesar do momento de descontração de mãe e filhote na infância, Bruno ressalta que a partir da vida adulta, a relação fica diferente.
Pioneira
Fera é uma onça-pintada que fez história no Pantanal. Ela foi a primeira onça a ser reintroduzida com sucesso no Pantanal, juntamente com sua irmã, Isa, de acordo com o Onçafari.
Ela é monitorada desde 2015 e é considerada pelo grupo uma excelente caçadora e notável mãe de primeira viagem de um casal de onças, Olympia e Ferinha, nascidas em 2018. A estimativa é que Turi tenha nascido em junho de 2020, para completar a família.
Fera e Isa passaram por um processo de reintrodução de cerca de um ano e meio, conta o guia de ecoturismo Fábio Paschoal. Segundo ele, as etapas contaram com aprendizado de caça e contato com outras onças do ambiente. Após esse período, elas foram soltas na natureza, com colares de identificação e mapeamento.
Abandono de filhotes
Apesar de os filhotes terem o costume de acompanhar a mãe até atingir a vida adulta, pesquisadores e profissionais que atuam no Onçafari acompanham de perto uma situação de abandono de filhotes.
Ferinha, cria de Fera, abandonou a filhote Leventina com menos de um ano.O biólogo Bruno Sartori Reis explica que é comum que felinos e outras espécies abandonem o filhote ao perceberem que ele não está se desenvolvendo como deveria. “A fêmea não vai ficar cuidando de um filhote que não vai vingar”, completa. Ele comenta que até com animais em cativeiro esse tipo de comportamento é avistado.
“É algo difícil e duro de ver e tirar essa humanização, mas é preciso olhar de uma forma mais fria, pensando realmente em respostas evolutivas que foram tendo para identificar esses animais”, aponta o biólogo.
O destino de Leventina é incerto. Atualmente, a onça-pintada está com aproximadamente 10 meses e se alimenta de carcaças de animais predados por outras onças.
Diante das razões que levam a uma mãe abandonar o filhote no mundo animal, fica a dúvida se Leventina possui algum problema de desenvolvimento.
“A olho nu é muito difícil [afirmar que a ela tem alguma doença]. Quando ela estava com a Ferinha ainda, a gente via ela muito magrinha, ela não estava ganhando tanto peso, tivemos algumas observações dela, quando ela ainda era menor, como se ela estivesse demorando para trocar os dentes, o que poderia dizer que ela estava com alguma falta de nutrientes, também poderia ser vários outros fatores”, cita o biólogo.
Ele comenta que somente com coleta e análise de materiais biológicos de Leventina é que seria possível confirmar ou descartar um problema com ela. A única certeza é que Leventina permanecerá sendo observada pelos profissionais.
Renata Barros/g1 MS