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"Soltaram ele pelo mesmo portão que eu saí", desabafa estudante vítima de assédio em MS
Suspeito segue livre mesmo após flagrante registrado em vídeo
A estudante de audiovisual Alice Jardim Neves Ferro, de 25 anos, relatou que se sente “completamente desamparada e sem proteção” após o caso de assédio em que foi vítima, no campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande, na noite desta segunda-feira (25).
Nas redes sociais, a jovem denunciou o assédio, após flagrar o suspeito se masturbando ao ar livre, na região da Concha Acústica, local onde há apresentações culturais na instituição.
Ela contou que estava no local quando, por volta das 21h, o homem a abordou e perguntou as horas. Após a informação, o suspeito teria ido para o canto da Concha; a jovem achou estranho e foi buscar a mochila, que estava no palco.
“Quando cheguei perto, percebi que ele ainda estava ali. Ele perguntou se eu tinha cigarro e, em seguida, começou a falar coisas obscenas. Logo depois, tirou o pênis para fora e começou a se masturbar, me chamando: ‘vem cá, você vai gostar’. Eu continuei fingindo que estava no telefone e fui saindo. Foi então que tive a ideia de filmar. Gravei o rosto dele e saí correndo”, relatou.
Ela conseguiu chegar até o auditório da UFMS, onde estava acontecendo uma exposição, com mais pessoas. “O pessoal chamou os guardas, que começaram a fazer ronda. Eu mandei o vídeo no grupo do audiovisual e, por volta das 22h, uma professora me levou de volta para casa”.
O homem foi localizado novamente por um grupo de aproximadamente 10 pessoas, que estavam em um ponto de ônibus da UFMS. “Ele estava se masturbando novamente e chamando as pessoas. Eles também filmaram, correram atrás dele e chamaram os seguranças da UFMS, que conseguiram detê-lo”, explicou Alice.
Descaso
Ao saber que o homem havia sido detido pelos guardas da UFMS, a estudante voltou ao local para chamar a polícia e prestar esclarecimentos sobre o ocorrido. Porém, ela denuncia situação de descaso vivida na DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) e demora para atendimento.
“Foram me atender por volta das 02h. O delegado quase não fez perguntas. Eu disse que tinha um vídeo explícito mostrando tudo, mas ele recusou ver”.
A surpresa aumentou ao ouvir que o suspeito iria ser liberado. “Perguntei: ‘Ué, mas nada vai acontecer?’ e me disseram que não, porque a lei só permite prisão em casos de estupro comprovado”.
Ela também relata que o boletim de ocorrência foi registrado de forma incorreta, além de terem negado a escolta policial, mesmo a vítima alegando que estava saindo junto com o suspeito.
“A sorte foi que dois colegas pediram um carro de aplicativo para mim, porque meu celular estava sem bateria. Quando saímos da delegacia e entramos no carro, vimos o homem andando pela rua, praticamente junto com a gente”, detalhou.
Agora, a estudante fica com o sentimento de desamparo e desprotegida, já que o suspeito segue livre, além de sentir frustração no atendimento vindo do órgão que deveria protegê-la.
“Isso não diz apenas a respeito do meu caso, no que tange um assédio e importunação sexual a uma travesti dentro da UFMS. Diz também sobre como é feito o atendimento na delegacia da mulher e como outras mulheres podem passar por situações até piores, envolvendo os mais piores tipos violência e não ter o devido cuidado o amparo perante a delegacia da mulher. Nas últimas horas estive recebendo outros relatos de mulheres e pessoas trans que tiveram seus direitos negados, silenciados e omitidos com escrita de b.o não condizente com o depoimento da vítima e falta de amparo em relação aos criminosos liberados pela delegacia”.
A reportagem tentou contato com a UFMS e com a Polícia Civil, mas até o fechamento da matéria não houve resposta. O espaço segue aberto.
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