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Morte de segurança de 78 anos teve relação com o frio? Médica explica riscos para idosos
Mais sensíveis a doenças respiratórias e variações bruscas de temperatura, idosos exigem atenção redobrada em dias frios
Do dia para a noite, Campo Grande registrou uma queda brusca de temperatura e sensação térmica de -6°C. Com a chegada do inverno, crescem as preocupações em relação aos efeitos do frio, especialmente sobre a população mais vulnerável, como os idosos, mais sensíveis a doenças respiratórias e variações bruscas do clima.
No mesmo dia, um idoso de 78 anos, que trabalhava como segurança em uma obra no bairro Jardim Seminário, morreu após um mal súbito durante o expediente. Conforme uma testemunha, ele estava agasalhado e usava cobertores, mas não há confirmação se permaneceu dentro do carro durante toda a madrugada.
“Ele infartou e morreu em decorrência do frio. O frio mata. O corpo trabalhou muito para manter-se aquecido. Ele chegou a ser atendido pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Pouco antes, havia ligado para o patrão dizendo que estava passando mal. Eu ajudei nas manobras de RCP (Reanimação Cardiopulmonar), me identifiquei, ofereci ajuda, mas, após um tempo, a médica confirmou o óbito”, relatou um bombeiro militar que presenciou a cena.
Frio aumenta riscos a idosos
Médica pneumologista, Amanda Almirão Alves explica que o frio intenso pode agravar condições crônicas, principalmente em idosos com histórico de doenças cardiovasculares, pulmonares, renais, vasculares ou neurológicas.
“Durante o frio, a pressão arterial pode aumentar, elevando o risco de infarto e AVC. Também há maior probabilidade de descompensação de doenças pulmonares como asma e DPOC [Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica]. Além disso, o aumento das síndromes gripais pode levar a complicações como sinusite e pneumonia”, alerta a médica.
No caso do segurança, embora a causa da morte ainda dependa de confirmação por necropsia, Amanda esclarece que, mesmo bem agasalhado, idosos são mais afetados pelo frio devido à menor massa muscular e gordura corporal, características comuns em pessoas a partir de 60 anos.
“Com o envelhecimento, os mecanismos de regulação da temperatura corporal se tornam menos eficientes”, explica.
Segundo familiares, na noite anterior à morte, o idoso — que era hipertenso — reclamou de dores no estômago e no peito, mas preferiu esperar por uma consulta médica de rotina.
Por isso, a médica ressalta a importância de estar atento a sinais de alerta como dor no peito, falta de ar, dor de cabeça, confusão mental, fraqueza, mal-estar generalizado, redução da mobilidade e dores no corpo.
Entre os riscos mais graves associados ao frio intenso está a hipotermia. Conforme o Ministério da Saúde, essa condição ocorre quando a temperatura corporal cai abaixo de 35°C e pode ser fatal, especialmente em situações de exposição prolongada ao vento e à umidade. Os principais sintomas incluem tremores intensos, palidez e extremidades frias.
Recomendações para enfrentar o frio
A Defesa Civil orienta sobre cuidados básicos, mas fundamentais, para evitar complicações durante os dias mais frios:
-Hidratação: beba bastante água, mesmo sem sentir sede. Evite álcool, que favorece a perda de calor corporal.
-Agasalhos em camadas: use roupas adequadas, como casacos, gorros, luvas e meias de lã.
-Cuidados com aquecedores: utilize aparelhos em bom estado e garanta ventilação para evitar intoxicação por monóxido de carbono.
-Atividade física leve: mantenha o corpo ativo, mesmo dentro de casa.
-Evite sair sem necessidade: limite a exposição ao frio, sobretudo entre os mais frágeis.
-Proteja a pele: use hidratantes para evitar o ressecamento e as rachaduras.
Doenças respiratórias e vacinação
O frio também agrava quadros de doenças respiratórias como gripe, bronquite e asma, além de tornar os ambientes fechados mais propícios à contaminação. Por isso, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) reforça a importância da vacinação contra a influenza, especialmente entre os grupos de risco. Em Campo Grande, a vacina já está disponível para toda a população.
“Estamos reforçando ações para que a vacina chegue até onde as pessoas estão. A prioridade é proteger os mais vulneráveis”, afirma o gerente de Imunização da SES, Frederico Moraes.
Os idosos representam o grupo mais vulnerável: conforme a SES, 48,7% das internações ocorreram nessa faixa etária, e 79,4% dos casos evoluíram para óbito. Crianças de 1 a 9 anos também foram bastante afetadas, concentrando 26,8% das internações por SRAG (síndrome respiratória aguda grave).
Outras orientações para evitar infecções incluem:
-Lavar as mãos com frequência;
-Evitar locais fechados e malventilados;
-Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar;
-Manter alimentação saudável e praticar exercícios;
-Evitar o fumo.
Em caso de sintomas como febre alta, tosse com secreção, falta de ar ou dor no peito, é essencial procurar atendimento médico imediatamente.
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