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Na sexta-feira 13, conheça a Bruxa da Sapolândia, mulher presa por matar crianças que virou lenda de terror em MS
Célia de Souza foi uma figura que proporcionou agitação na capital de Mato Grosso do Sul no final da década de 60. Passadas mais de seis décadas, a figura da Bruxa da Sapolândia ainda é presente no imaginário popular.
Bruxa da Sapolândia. Uma mulher. Um crime. Uma lenda de terror. Desde a década de 70, a história de Célia de Souza desperta interesse e curiosidade em Mato Grosso do Sul e compôs até livro. O autor André Alvez, relatou ao g1 o mistério ao redor da mulher que ficou eternizada no imaginário popular dos moradores de todo o estado.
Segundo Alvez, o ano era 1920 quando Célia nasceu, no então estado de Mato Grosso. Após 49 anos, ela seria presa acusada de matar ao menos seis crianças e enterrá-las próximo a casa em que vivia, em Campo Grande.
A curiosidade em torno de Célia iniciou muito antes dos crimes aos quais ela foi acusada. “Em um dado momento ela foi considerada bruxa pelo moradores, porque fazia feitiços... Aquelas coisas de namorado voltar com a namorada, costurava na boca do sapo. Então se criou ao redor dela uma aura de mistério”, detalha o autor.
O escritor, inclusive, nasceu e foi criado na região da cidade onde o caso ocorreu. Ele explica que Célia também era cuidadora de crianças. Na época em que casais deixavam os filhos na cidade para trabalharem na fazenda, era comum as crianças passarem meses morando com as cuidadoras.

“Existiam várias cuidadoras excelentes aqui. Pessoas que tinham orgulho e que cuidavam muito bem das crianças”, comenta Alvez. Contudo, não era o que ocorria com Célia.
“As crianças iam ficando desnutridas, a alimentação era muito precária. As crianças eram alimentadas com chás de cascas de mandiocas, bananas verdes picadas e elas foram ficando desnutridas. Fora os sofrimentos, porque ela fazia as sessões de magia dela, que iam muitas pessoas, e ela usava essas crianças, batia, sacrificava, usava sangue, essas coisas”, conta o escritor.
Segundo Alvez, Célia não agia sozinha. Ela tinha um parceiro chamado João Luiz, que na época tinha pouco mais de 20 anos.

“João Luiz tinha uma moto e as pessoas costumavam dizer que quando a moto roncava era por que alguém estava morrendo”, relata Alvez.
Por causa da fama, Célia ficou conhecida como Bruxa. Atualmente, a região em que ela vivia em Campo Grande compõe o bairro Vila Taquarussu. Próximo ao córrego Segredo, a área era repleta de anfíbios, entre eles sapos.
“Quando anoitecia, os sapos começavam a cantar, era aquele coaxar muito forte. Por isso, a região era chamada de Sapolândia”, explica Alvez.
O mistério após a prisão
Aos 49 anos, Célia e João Luiz foram presos após serem denunciados. Ao redor da casa, na Sapolândia, os corpos de seis crianças foram encontrados enterrados.
Porém, a prisão durou até 1971, conforme pontua Alvez. E após a soltura, a dúvida que pairava entre todos era: para onde a Bruxa da Sapolândia foi?
“Quando ela saiu ninguém sabe o que aconteceu com ela. A gente procurou ter informações sobre atestado de óbito, porque apesar de analfabeta, ela tinha documentação. Só que não encontramos nada. Ninguém sabe o que aconteceu com ela”, detalha o escritor.
Nascido na região da Sapolândia, o autor do livro cresceu ouvindo os relatos sobre a famosa Bruxa. “Quando era pequeno, a minha mãe, a minha avó, sempre me alertavam e me chamavam para dentro de casa ao anoitecer. Elas diziam que corria o risco da bruxa me pegar. ‘Cuidado com a Bruxa da Sapolândia’, diziam. Eu cresci com aquilo na cabeça”, diz Alvez.
Anos depois, ele transformou a lenda urbana em livro. “Criei uma ficção em torno dela, pautada no que eu gosto de escrever, que é o realismo fantástico. Meu intuito era manter a lenda viva e eu acho que consegui”, orgulha-se.
A casa

O escritor comenta que a casa onde a Bruxa da Sapolândia viveu permanece intacta. Inclusive, novos moradores habitam a residência, feita e mantida, em madeira.
“A casa existe do jeito que era, está lá. Um homem mora lá e diz que ouve coisas, vê vultos. As pessoas costumam achar uma energia negativa no local e realmente tem um clima muito pesado ali”, relata Alvez.
Durante a pesquisa para o livro, o autor foi procurado por muitas pessoas que conheceram Célia de Souza. “Muitas pessoas que conviveram com ela estão vivas. Algumas delas entraram em contato comigo, falando que adoeceram e a ela curou”, relata.
Após retomar a liberdade, a Bruxa da Sapolândia desapareceu. Sem filhos, sem o parceiro, que também não se sabe o paradeiro, de Célia de Souza ficou o mistério. Até os dias atuais, crianças ainda ouvem dos pais para "ter cuidado" com a Bruxa da Sapolândia.
Se após 102 anos do nascimento de Célia, o destino de seu corpo é incerto, o concreto é que sua lenda entrou para o rol das histórias perpetuadas no estado.

Renata Barros, g1 MS