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Confira o editorial desta quinta-feira: "Inconsequência ambiental"
No dia em que o Formoso e outros rios da região de Bonito, como o Sucuri e o da Prata, não tiverem mais suas águas cristalinas, os turistas vão passar longe da cidade.
Depois do Pantanal, certamente Bonito é o segundo nome de cidade ou região de Mato Grosso do Sul mais conhecido em todo o planeta. Por causa das águas cristalinas do município da região sudoeste do Estado, e de todo o ecossistema da planície pantaneira, estes locais se posicionam entre dois dos destinos de ecoturismo mais procurados do mundo. Em 2013, por exemplo, o World Responsible Tourism Awards, uma das maiores premiações do turismo do planeta, que ocorre em Londres, na Inglaterra, escolheu Bonito como o melhor destino sustentável do mundo. No Brasil, a cidade também recebeu, em 14 oportunidades, o prêmio de melhor destino de ecoturismo do País. O Pantanal também já foi escolhido em outras tantas premiações.
Mas não vamos falar aqui do reconhecimento da região do Pantanal e das belezas de Bonito somente como atração turística. Elas são muito mais do que isso. Elas são um meio de sustento para milhares de moradores de Mato Grosso do Sul, que, a partir do turismo e da pesquisa científica, sobrevivem e ajudam a preservar estes locais ou ecossistemas.
No dia em que o Formoso e outros rios da região de Bonito, como o Sucuri e o da Prata, não tiverem mais suas águas cristalinas, os turistas vão passar longe da cidade. Esta possibilidade, infelizmente, não é algo distante. É algo que pode ocorrer nos próximos anos. Reportagem publicada ontem mostra que o Ministério Público Estadual e organizações de proteção ao meio ambiente estão em alerta quanto às intenções da Sanesul de captar água do Rio Formoso para o abastecimento da cidade. Tal empreendimento pode gerar processos erosivos que afetariam a qualidade da água, especialmente sua transparência característica.
Recentemente, outra instituição ligada ao governo do Estado, o Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), tomou medida que ameaça mais um paraíso ecológico: o Pantanal. Liberou a supressão vegetal de 20,5 mil hectares de mata nativa na região do Alto Paraguai, em fazenda localizada entre os rios Taquari e Piquiri, dois cursos d’água em processo de assoreamento. Esperamos que as autoridades do Executivo – que deveriam zelar pelo meio ambiente – ou órgãos que defendem os direitos difusos e coletivos, como o Ministério Público, atuem com maior rigor pela sua preservação e impeçam que tal devastação ocorra.
A julgar por estes dois atos recentes da Sanesul e do Imasul, é possível constatar que a administração estadual não tem pensado nas consequências de suas ações. As preocupações se perdem em meio a efeméride do imediatismo: “encontrar um meio mais eficiente e mais barato para abastecer Bonito” ou “reformar 20,5 mil hectares de uma única fazenda para engordar bezerros”, quando o receio dos responsáveis por estes órgãos governamentais deveria ser muito mais nobre e permanente: “que mundo deixaremos para nossos filhos?”. Essa, sim, deveria ser a consciência dos que têm a caneta na mão.
Fonte: Correio do Estado