Coxim MS
Mestre de Coxim: a história viva do Professor Bira
Em cada sala de aula há histórias que ultrapassam o quadro e o giz e há professores que permanecem vivos na memória de quem aprendeu não apenas lições, mas modos de ver o mundo. Assim foi Ubirajara Gonçalves de Lima (in memoriam), o inesquecível professor Bira, homem de alma inquieta, voz firme e olhar sereno, que deixou em Coxim um legado feito de sabedoria, amizade e amor pela vida.
Natural de Tupã, interior de São Paulo, Bira construiu sua trajetória sobre alicerces sólidos: o trabalho, o estudo e o amor pela educação. Casado com Sílvia Helena de Lima, viveram uma união de 41 anos, Bira foi pai de três filhos: Cíntia Iara Miltus de Lima, Keli Carina Miltus de Lima e Ubirajara Gonçalves de Lima Júnior, e avô orgulhoso de sete netos: Maria Eduarda, Ana Beatriz, Alice, Lunna, Murilo, Théo e Enrico. Escolheu Coxim como lar há mais de 35 anos e aqui fincou suas raízes, entrelaçando sua história à da cidade que tanto amava.
Formado em Matemática, com Pós-Graduação em Metodologia da Educação, traduzia sua busca constante por conhecimento e aperfeiçoamento, um exemplo vivo de que aprender é um ato contínuo.
Na Escola Estadual Pedro Mendes Fontoura, onde atuou como professor e diretor, o professor Bira se tornou uma figura inesquecível. Suas aulas iam além dos livros: eram lições de vida, ética e humanidade. Participou ativamente da FEPROSUL e da FETEMS, e esteve à frente da fundação de partidos políticos, associações e sindicatos, sempre com o propósito de valorizar o profissional da educação e fortalecer a democracia.
Na Câmara Federal, destacou-se por seu compromisso com Coxim, trabalhando incansavelmente para alavancar recursos e viabilizar obras que transformaram o município, deixando marcas concretas e simbólicas em sua terra adotiva.
Quem o conheceu sabia: Bira não se limitava ao conteúdo dos livros. Ele ensinava sobre a vida. Ensinava que a ética é o alicerce de qualquer caminho, que a empatia transforma relações e que sonhar não é privilégio de poucos, mas dever de todos. Seus alunos recordam até hoje suas palavras carregadas de entusiasmo e o jeito simples, quase paternal, com que transformava dúvidas em descobertas.
Mas o professor não vivia apenas entre cadernos e quadros. Amava Coxim, cada rua, cada rosto, cada amanhecer sobre o Rio Taquari. Sua ligação com a cidade era de pertencimento profundo. Em suas conversas, falava com orgulho da terra onde escolheu ensinar e viver. “Quem ama sua cidade cuida dela, quem ensina nela constrói o seu futuro”, dizia. E foi exatamente isso que fez: construiu futuros.
A política era outra de suas grandes paixões. Bira acreditava na força do diálogo, no poder das ideias e na responsabilidade de participar da vida pública com honestidade e propósito. Era um homem de opinião firme, mas de alma generosa, sabia discordar com respeito e lutar com serenidade. Para ele, a política verdadeira não estava nos palanques, mas nas pequenas ações cotidianas que melhoram a vida das pessoas.
Entre família e amigos, era conhecido pelo riso fácil, pela palavra acolhedora e pela presença constante. Amava reunir pessoas, contar histórias, ouvir músicas antigas e celebrar as pequenas vitórias da vida. A família era seu porto seguro, e os amigos, sua segunda casa. Leal e sensível, Bira deixava sempre uma marca: a sensação de que o mundo podia ser um lugar mais leve quando se olhava através de seus olhos.
Sua partida, em 14 de maio de 2018, deixou um silêncio difícil de traduzir o tipo de ausência que ecoa. Mas em cada lembrança, em cada aluno que se descobriu capaz, em cada amigo que ainda cita suas frases, o professor Bira permanece presente. Ele não foi apenas um educador: foi um cultivador de sonhos, um semeador de valores, um homem que acreditava que ensinar é, acima de tudo, um gesto de amor.
Hoje, quando o nome do professor Bira é lembrado nas conversas e memórias de Coxim, ele surge como símbolo de tudo o que há de mais bonito na missão de educar: o compromisso com o outro, a paixão pelo saber e a esperança no futuro.
E talvez essa seja sua maior lição a de que a verdadeira imortalidade não está nas páginas da história, mas na vida das pessoas que tocamos. O professor Bira vive nelas. Vive em Coxim. Vive em cada coração que aprendeu com ele que o conhecimento, quando nasce do amor, jamais se apaga. Se você como eu, de alguma forma teve a vida tocada pela generosidade do eterno BIRA, lembre-se dele sempre com carinho e orgulho por ter esse ser humano como parte de sua caminhada. Obrigado BIRA!
Bira, o Professor de Todos os Tempos
Na curva mansa do Taquari,
onde Coxim desperta e floresce,
vive o eco de uma voz firme,
de um homem que não esquece.
Professor Bira, raiz plantada,
em solo fértil de amor e missão.
Fez da vida sua sala de aula,
ensinou com o livro e o coração.
Na Escola Pedro Mendes, seu templo,
moldou caráter, acendeu razão.
Mais que fórmulas e teorias,
ensinava ética, afeto e ação.
Entre quadros, cadernos e sonhos,
era guia, era ponte, era chão.
E cada aluno que hoje voa alto,
carrega um pouco de sua mão.
Na política, firme e sereno,
lutou com palavra e esperança.
Do Partido dos Trabalhadores,
trouxe voz, coragem e mudança.
Sabia que o povo era a chave,
que justiça não nasce sozinha.
Falava de ideias com alma,
e fazia da luta uma linha.
Nos gestos pequenos,
plantava futuro com calma e suor.
Para Coxim, sua terra adotiva,
deu tudo: seu tempo, sua cor.
E entre reuniões e discursos,
nunca se ausentou dos amigos.
Conversas longas, café na varanda,
partilhas simples, afetos antigos.
Silvia Helena, amor e alicerce,
a quem chamou de vida e destino.
Nos filhos: Cíntia, Keli, e Ubirajara Júnior
espalhou valores como ensino.
Nos netos: Maria, Ana, Alice, Lunna,
Murilo, Théo e Enrico renasce.
Cada riso, cada passo e pergunta,
é um traço do avô que os abraça.
Homem de mãos calejadas,
mas de alma leve como criança.
Carregava o mundo nos olhos,
e no peito, uma eterna esperança.
Partiu em maio, no silêncio...
Mas ficou em cada saudade sentida.
Porque há mestres que não se vão:
transformam a ausência em vida.
E Coxim, que o viu semear tanto,
hoje colhe memórias e flor.
Professor Bira não foi só um nome
foi legado, raiz, amor.
Fonte: Glenda Melo/Diário do Estado