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Policial encara curso do Choque e é primeira mulher a concluir teste na Polícia Militar de RR

20 JUL 2017Por Valdeir Simão e Youssef Nimer17h:44

O estigma de sexo frágil não conspirou contra a capacidade física e psicológica da sargento V. Carvalho, de 32 anos, durante os 47 dias do curso do Choque, um dos mais 'puxados' na carreira militar. Ela foi a primeira mulher da Polícia Militar de Roraima a concluir a especialização e brinca ao falar sobre o período em que esteve com outros policiais no decorrer das atividades:

"Não pedi para sair", sargento V. Carvalho, PM de Roraima

Esta foi a primira vez que a PM de Roraima ofereceu o curso do Choque dentro da corporação. Dos 84 inscritos ao grupo de elite, quatro eram mulheres. Duas desistiram no primeiro dia, outra no decorrer das atividades e somente a sargento, que até raspou os cabelos durante o treinamento, concluiu o curso.

Nesta quinta-feira (20), os 42 'choqueanos', como são chamados os aprovados, participam da formatura de conclusão do curso no Parque Anauá, zona Leste de Boa Vista.

O curso do Choque prepara policiais para atuarem em situações extremas de conflitos como reintegrações de posse, manifestações com atos de vandalismo e controles em presídios.

A sargento, que é formada em psicologia e mãe de dois filhos, relata que inúmeras vezes os alunos são colocados em circunstâncias extremas de cansaço e fadiga. Além disso, o treinamento 'puxado', segundo ela, não privilegia gêneros.

 “Não vim para um curso desse porte sendo mulher na expectativa de ser 'bem-vinda'. Não é assim. Você vem sabendo que encontrará resistência em razão do porte físico feminino, questões orgânicas e fisiológicas. É um curso voltado para homens. Mulher não é bem-vinda, porém não é proibida de participar”, acentua, respondendo que não teve ‘privilégios de nada’.

Durante o treinamento, a sargento decidiu raspar a cabeça. Embora se desfazer do próprio cabelo tenha mexido com a vaidade e a emoção, a policial garante não ter sido obrigada. Ela diz que escolheu fazer isso por entender que o treinamento exigia dedicação total.

“Não é algo que você é obrigada, mas existem questões que influenciam para que você corte. Não há como dizer que não é doloroso. O mais difícil foi tomar essa decisão de cortar, depois, a adaptação foi tranquila, até porque eu estava mergulhada naquele universo e todos que estavam ao meu redor tinham a cabeça raspada", disse.

Cicatrizes e situações extremas

Sem entrar em detalhes sobre as atividades do curso, V. Carvalho conta que o 'guerreiro do Choque' é constantemente levado ao extremo durante as atividades. Nas mãos dela, as cicatrizes visíveis indicam os desafios enfrentados pelos alunos.

Ela disse saber que o ingresso para o Choque 'era de natureza difícil’ devido às tarefas atribuídas aos policiais de elite, por isso, se preparou fisicamente logo que se inscreveu para o curso. Antes de começar as atividades, os militares passam por testes de aptidão física e exames médicos.

“O Choque é acionado para situações críticas e não pacíficas”, frisa a sargento ao exibir o brevê com um elmo - armadura usada por cavaleiros na Idade Média - símbolo da tropa que atua em difíceis missões, e que agora faz parte da farda dela.

Embora não tenha tido tratamento especial, houve situações em que ela foi mais cobrada e, consequentemente, motivou os demais colegas do curso, deixando subentendido que, se uma mulher pode, todos os demais poderiam.

“A mulher é mais testada porque tem o estigma de sexo frágil. Então acaba sendo mais cobrada para saber se estará apta para a função. Temos de estar capacitados porque, caso contrário, você pode perder sua vida durante a atividade. Comigo não houve o sexo frágil”, reitera.

Durante o curso os alunos são treinados com todos os equipamentos que vão usar diariamente: escudo, caneleira, tornozeleira e capacete.

"Como somos muito cobrados nesse curso, acabamos que temos um crescimento profissional e pessoal muito grande, valioso. Não podemos ceder ao sono ou cansaço. Manuseamos armas e agentes químicos. As técnicas são eficazes para nossa função, por isso me dediquei ao máximo".

Apoio da família

A sargento considera que o apoio da família, principalmente dos filhos de 10 e 12 anos, foi fundamental para que ela concluísse o curso.

“Sei que sentiram minha falta, mas eles me apoiaram me dando forças. Quando chegava tarde da noite meu filho estava me esperando. Aprendi a dar valor a muitas coisas. Todos os momentos do curso foram importantes para mim, foram muito fortes. Cresci pessoalmente. Sou outra pessoa depois do treinamento”, declara.

Ela diz quando achava que havia chegado ao limite recordava do suporte da família e seguia em frente: "cheguei a questionar se conseguiria chegar ao fim, mas me recuperava ao lembrar do apoio da família e isso foi muito importante".

A sargento, que ingressou na PM como soldado em 2008 aos 23 anos, disse que agora prentende atuar no Batalhão do Choque. Ela era lotada na PM de Caracaraí, município na região Sul de Roraima, quando se inscreveu para o curso.

Atualmente a PM de Roraima tem 12 mulheres militares formadas em cursos de elite: 12 em Força Tática e seis em Canil, ambos do Bope. Dessas, duas atuam como FT e quatro no Canil.

Ela dá um conselho para as mulheres que almejam participar do curso de Choque: “Se preparem emocionalmente, psicologicamente e fisicamente, e tenham convicção do que querem porque não é fácil”.

Fonte: G1

M9

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