A Geração Nutella

06/01/2022 18:40:00


Muito se comenta sobre a mudança de comportamento das novas gerações. Essa mudança, repleta de sutilezas, leva muitos a chamarem os jovens de hoje de "geração nutella", em referência ao alimento industrializado com um teor altíssimo de açúcar. Em tese, alimento muito saboroso, mas que, em excesso, faz mal à saúde.

O comportamento da tal geração nutella revela sempre um contraste absurdo com o da "geração raiz". Contrastivamente, a geração raiz é rústica, enquanto a nutella é sensível. Para melhor exemplo, seria como se a geração raiz fumasse cigarros "paiero" e a geração nutella narguillé e outros congêneres do consumo tabagista.

Qual foi minha surpresa, hoje pela manhã, conversando com minha mãe, absorta nos afazeres do lar, observamos que os animais domésticos também aderiram ao comportamento nutella. Os cães aqui de casa não querem mais, de modo algum, se deitar no chão. Só se deitam se for numa superfície mais macia e confortável.

O cão da minha irmã, por exemplo, só dorme se for na cadeira de fio. Aqui de casa é ainda mais grave: só querem o sofá ou a própria cama que buscam sorrateiramente e de lá só saem quando "agredidos fisicamente" pelo dono da cama. Os gatos fazem greve de fome se não tiver a ração que eles aprovam. O dono que lute para comprar a comida do pet. Carne crua, jamais. Só se estiver bem temperada e bem passada.

A constatação mais chocante e que, por vezes, não gostamos de admitir é que nós mesmos é que reforçamos estes comportamentos (tanto nas pessoas quanto nos animais). Watson e Skinner, teóricos da teoria psicológica do beheviorismo, sustentam a ideia de que são os "estímulos antecedentes é que geram o comportamento atual". Dito de outro modo, a culpa é nossa.

A ontologia (a busca da causa) sempre recairá sobre nós mesmos e sabidamente não gostamos de ser objetos de estudos em que as consequências desses estudos apontam para nossas ações e omissões. Ou seja: a geração nutella é o fruto das sementes que outrora plantamos.


Valdir Silva