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'Nosso rio está morto', lamenta cacique de aldeia indígena a 22 km de Brumadinho

Aldeia Nao Xohã, afetada por rompimento da barragem, fica às margens do rio Paraopeba.

30 JAN 2019Por Redação/TR15h:26

O rompimento da barragem em Brumadinho aconteceu no começo da tarde de sexta-feira (25). A lama de rejeitos seguiu descendo o Rio Paraopeba, e na manhã de sábado (26) chegou a aldeia indígena Nao Xohã, em São Joaquim de Bicas, a 22 km de Brumadinho.

"O nosso rio está morto. Estamos com o coração ferido porque agora não tem como sobreviver."

- "Estamos sem saber o que fazer de agora em diante", disse o cacique Hayó, de 28 anos.

As 18 famílias que vivem na aldeia usam o rio para pesca, banho, e para lavar roupa. O índio Tahhaõa, de 55 anos, está desde sábado recolhendo peixes mortos e cheios de lama. "Este era nosso alimento", fala ao recolher mais peixes. Os animais estão sendo queimados para que os cachorros da aldeia não os comam, o que pode ser prejudicial.

"Nós estamos aqui para preservar a terra, a natureza, o rio. Aí vem alguns irresponsáveis e fazem isso, acabam com a nossa vida, com a nossa fonte de alimento, com o nosso lazer."

- É por isso que estamos revoltados mesmo. Nós queríamos que essas pessoas estivessem aqui para verem, mas eles não têm coragem de vir", disse Tahhaõa.

Dezoito famílias vivem na aldeia e usam o rio para pesca, banho, e para lavar roupa — Foto: Paula Paiva Paulo

Os indígenas contam que a água do rio era clara e que era possível ver as pedras no fundo. "Ele morreu às 9 horas da manhã do sábado, quando esse regente veio de lá pra cá, levando embora nossos sonhos", disse Angohó, de 53 anos, esposa do cacique.

A aldeia não tem energia elétrica. A água usada era basicamente do rio. Com isso, estão recebendo apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai). A Prefeitura de Brumadinho foi à aldeia na segunda-feira (28) para ouvir as demandas dos indígenas. Na terça (29), integrantes do Ministério da Saúde foram ao local com médicos, enfermeiros e psicólogos para prestar atendimento.

Única fonte de renda dos índios é o artesanato, vendido em feiras de Belo Horizonte — Foto: Paula Paiva Paulo

Nao Xohã significa "espírito de guerreiro" em Patxohã, língua falada por alguns indígenas do local. A aldeia é do povo Pataxó. "Nossa aldeia mãe fica em Barra Velha (BA)", disse o cacique.

Os indígenas contaram que estavam tendo confrontos com o entorno da aldeia, na Bahia. Eles conheceram integrantes do Movimento Sem Terra (MST), que os convidaram para se estabelecer em São Joaquim de Bicas, Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde há um acampamento do movimento, chamado Pátria Livre.

A aldeia pataxó está no local há um ano e seis meses. A única fonte de renda é o artesanato, que os índios levam para vender em feiras em Belo Horizonte.

Sem água, os indígenas ainda não sabem como irão viabilizar sua permanência no local. "Nós não podemos morrer junto com o rio. Nós vamos lutar. É isso que nós vamos fazer", disse Angohó.

Estamos com o coração ferido porque agora não tem como sobreviver", disse o cacique Hayó, da Aldeia Nao Xohã — Foto: Paula Paiva Paulo

Por Paula Paiva Paulo, G1 — Brumadinho

 

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