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Artigo

A falta de incentivo na educação e suas consequências para o jovem

Brendon Moreira é engenheiro civil.

13 JAN 2019Por Redação/TR18h:00

Recentemente dialoguei com uma amiga a respeito da péssima qualidade do ensino público no Brasil. Um amigo em comum – que já concluiu o ensino médio - perguntou em um de nossos grupos de whatsapp se a cidade de Jerusalém se localizava na Itália.

Ela respondeu corretamente à ele, e então, no particular iniciamos um debate sobre o assunto. Curiosamente não me espantei com a pergunta. É estranho refletir que um questionamento que pode parecer tão absurdo para alguns, me pareceu tão normal.

O Ensino público no Brasil é uma lástima e pagar colégio particular em um país onde metade dos trabalhadores vive com menos de um salário mínimo por mês, está fora da realidade da grande maioria da população. Sou formado em Engenharia Civil, mas cursei todo o meu ensino fundamental e médio na escola pública do bairro onde morava.

Só pude ter noção da enorme diferença de ensino quando entrei no meu primeiro ano de faculdade. Muitos colegas que vieram de escolas particulares levavam as matérias numa boa, enquanto eu sofria e muitas vezes ficava de dependência por não ter tido uma base de ensino onde deveria ter aprendido o mínimo necessário para iniciar os estudos em uma universidade.

Infelizmente, a falta de incentivo e o descaso com a educação brasileira criaram várias gerações que pensam pequeno. Quantas vezes já não ouvimos que os filhos são os reflexos dos pais? De acordo com a “Síntese de Indicadores Sociais” divulgada pelo IBGE em 2017, menos de 5% dos filhos de pais sem instrução concluem o ensino superior. Está triste realidade é visível em nosso cotidiano.

A tendência social é que os filhos não almejem uma profissão melhor do que a de seus pais, e quando almejam, muitas vezes não acreditam que seja possível realizar. Nada contra trabalhos braçais, são dignos como quaisquer outros, – meu pai trabalhou a vida toda como eletricista – mas o sonho de ter um curso superior deveria ser incentivado no país.

O ensino público está defasado. Pais mandam os filhos para as escolas na esperança de que estes possam estudar e ter melhores oportunidades no futuro, mas as expectativas não correspondem à realidade. Nos últimos 15 anos, criou-se no Brasil uma tendência no ensino público de que é mais importante passar de ano, do que aprender.

A qualidade do ensino é precária e os professores não exigem muito para aprovar o aluno, independentemente de seu nível de ensino. Muitos destes estudantes não se esforçam, pois, para conseguir um emprego que não necessita de formação e seguirem os exemplos de seus pais, não é preciso estudar.

No Brasil não temos incentivo ao estudo. O jovem não enxerga recompensa em passar anos em uma sala de aula. Não vemos em propagandas, programas de televisão ou filmes nada que incentive ao estudo. É necessário que desde pequeno o aluno desenvolva uma consciência própria a respeito da importância de estudar, e se essa consciência não é transmitida através dos pais, é praticamente impossível que seja desenvolvida de maneira própria pela criança.

Todos os dias vemos notícias que mostram políticos envolvidos em esquema de corrupção, ganhando dinheiro fácil. É comum vermos filmes, livros e vídeos de empreendedores bem sucedidos que não possuem estudo, mas ficaram milionários de alguma forma e hoje dão instruções baratas de como seguir os seus passos - os chamados “coachs”.

Traficantes que nunca pisaram em uma sala de aula exibem cordões de ouro e vivem em mansões. Funkeiros, MC’s e duplas sertanejas ostentam na internet, rodeados de mulheres, carros de luxo e bebidas importadas. Youtubers se tornam conhecidos do dia para a noite e passam a dar entrevistas em programas de televisão que impulsionam seus “viewers”, no que acabou se tornando uma nova profissão. Nada incentiva a estudar.

Se não for através dos pais, dificilmente a criança entenderá este raciocínio a respeito da importância do estudo. Plagiando nosso querido Chorão – ex vocalista do Charlie Brown Junior – “Graças a Deus eu não tive um pai assim”.

Meu pai desde pequeno me conscientizou sobre a importância do estudo para o meu futuro. Nunca exigiu que eu trabalhasse, mas para que tivesse a liberação para jogar videogame ou futebol com os amigos era imprescindível ter todas as notas azuis no boletim escolar. Apesar do rigor, ele me ajudou bastante.

Hoje ele tem a oportunidade de me ver formado, mas infelizmente, na maioria das famílias brasileiras não é assim que as coisas funcionam. Que me desculpem os que tiveram melhores oportunidades, mas enquanto esta realidade não mudar, continuarei achando normal que me perguntem se Jerusalém fica na Itália.

Fonte: Campo Grande News

Mamma dentro

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