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E não é que os Stories estão nos afastando da mídia Rio-SP?!

André Mazini

3 SET 2018Por Redação/TR21h:45

Acho que pouca gente se deu conta do quanto um simples recurso tecnológico como o Stories (principalmente do Instagram e do Facebook) tem transformado a maneira como consumimos conteúdos midiáticos. Até bem pouco tempo a gente comprava mais fácil a ideia de que a vida “padrão”, ou pior, a vida “ideal” no Brasil se passava basicamente entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Era isso o que aparece nas novelas, nos jornais de alcance nacional que gastam um tempão falando sobre o engarrafamento na Imigrantes depois do feriado, no futebol que só transmite jogos basicamente de dois estados (que eu duvido você adivinhar quais são), etc.

Nós não vemos os protagonistas das novelas tomando tereré, por exemplo. Ok, tem uma ou outra exceção, eu sei. Em 1990, o Almir Sater empunhava uma guampa na novela Pantanal da extinta Rede Manchete. Mas desconfio que o diferencial da novela tenha sido justamente o exotismo de mostrar os hábitos de um Brasil mais escondido aos olhos dos paulistas e cariocas.

O fato é que a maioria de nós, que somos desse Brasil profundo (leia-se: qualquer região fora do eixo Sampa-Rio), cresceu entendendo que o maior sonho de desenvolvimento seria a chegada de um shopping na cidade. Pausa: meu irmão já me disse que os paulistanos acham engraçado (mais um “leia-se”: ridículo), quando os “de fora” falam sampa.

O Facebook ajudou muito a nos fazer olhar para as pessoas mais próximas ao nosso alcance. Claro que nos relacionamos nas redes com muita gente com quem temos pouquíssimo ou nenhum contato físico. Mas de qualquer forma são pessoas mais parecidas com a gente, que compartilham cenários em comum, gostos por séries, ideologias políticas, estilos de festas que frequentam, e por aí vai. A meu ver, bem melhor que ficar se comparando (e obviamente se frustrando) com os inalcansáveis globais, pelo menos.

Mas, se as redes sociais em geral já vinham avançando nisso, a popularização dos Stories em diversas plataformas mudou ainda mais radicalmente o nível de pessoalidade do conteúdo que consumimos. E aqui me refiro a conteúdo de forma genérica (de notícias a selfies com biquinho e carão).

Segundo dados da mLabs, uma plataforma de gestão de redes sociais, 37% de quem usa Intagram já são adeptos a postagem de stories de forma frequente, o que representa algo em torno de 300 milhões de usuários ativos do recurso, POR DIA!

Alguns mais conservadores podem tentar colocar nos adeptos desta nova cultura midiática um carimbo de stalker, aqueles que encontram um tipo de prazer meio mórbido em ficar fuçando na vida alheia, às vezes até obsessivamente. Eu concordo que exista quem faça isso, quase que como reflexo de um disturbio mental, mas há também outra leitura possível. Essa busca por fugir ou amenizar a solidão e estar junto das pessoas, ainda que de forma online, é expressão de um impulso básico humano pela coletividade. Afinal, esse ser frágil chamado Homo Sapiens só se tornou o que é porque aprendeu a viver junto, de forma coordenada pela comunicação.

Outros vão dizer que mídias como o Stories podem gerar mais alienação, por ser um espaço onde não exista o contraditório nem possibilidade de debates mais sérios sobre temas socialmente relevantes ou tretas em geral. Nisso concordo em parte. Até porque, olha... se todo mundo for tão feliz, bonito, saudável e divertido como aparece nos meus Stories, eu vou começar a desconfiar que nós estamos vivendo algum episódio esquisito de Black Mirror. E quem já viu a série sabe que esses episódios não são lá muito adeptos de “finais felizes”.

Mas tirando a parte das críticas (que são legítimas e necessárias), me parece interessante que o Stories nos tenha trazido de novo para o que está perto. Ali eu posso acompanhar o desenvolvimento dos meus sobrinhos que não tenho a sorte de conviver pessoalmente todos os dia, dou risada com aqueles amigos palhaços cheios de histórias engraçadas, vejo a indiganção política dos mais engajados e sisudos, sei de bons eventos que certamente não conheceria em outras plataformas. Enfim, tem de tudo. E o melhor, tudo o que está razoavelmente ao alcance.

Não acho que ainda estejamos testemunhando um relevante declínio da já rodada cultura de comunicação de massa, mas confesso que eu, nos meus momentos de bobeira, gosto de olhar o conteúdo produzido por pessoas próximas a mim ao invés daquela realidade praia-arranhacéus que nunca fez muito sentido na infância e adolescência em Bataguassu.

Os reflexos sociais disso pro futuro? Precisamos de mais alguns anos para estudar como se deve. Por enquanto somos apenas testemunhas de um cenário de mídia em transformação em que o que aparece na tela está mais parecido com nossa “realidade”, seja lá o que isso queira dizer.

Fonte: Campo Grande News

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