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Artigo

Dentro e fora do Exército

Cezar Benevides é professor aposentado da UFMS

9 JUN 2018Por Redação/TR08h:00

No momento histórico em que estamos vivendo, são muitos os que desejam fazer valer a força das armas por meio de uma intervenção militar no País. Não me parece a solução correta. Evidentemente, trata-se de uma ilusão. A finalidade do Exército é a guerra, mas a missão de seus líderes está na garantia da paz. Faz quarenta anos que deixei o Exército brasileiro por livre e espontânea vontade. Fui até homenageado pelo comandante do curso de Engenharia da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), que não desejava o meu afastamento. Reconheço que o Exército sempre foi a chave para manter o País unido. Sobre o assunto, as antigas divergências ideológicas precisam ser superadas. Não se trata de ter sido a favor ou contra o movimento civil-militar de 1964. Entendo que essa discussão não tem utilidade nos dias de hoje. É preciso olhar para a frente.

Tendo vivido tantos anos fora do Exército, em ambientes universitários, poderia ter permanecido com as mesmas ideias que tivera quando me encontrava na Aman? Quais questões reformulei? A primeira é que procurei uma vida menos dura e melhores salários. Além disso, entre 1978 e 1988, defendi publicamente uma Assembleia Nacional Constituinte.

Para o soldado que fui, a morte do inimigo era o meu projeto de vida. Fomos formados, em parte, para destruir o adversário. No entanto, a questão estratégica de fundo sempre foi a nossa soberania militar. Tantos anos depois, como professor aposentado, defendo que o Estado Democrático de Direito deve continuar apoiando o desenvolvimento de programas militares, sobretudo, para garantir o protagonismo do Brasil como uma nação pacífica. O Estado não pode abrir mão de controlar o capital de empresas, como a Embraer, e fiscalizar rigorosamente as atividades das empresas privadas do setor de armamentos.

Paradoxalmente, tive na Aman meu primeiro contato direto com a morte de amigos e não, de inimigos. A tragédia que mais me marcou atingiu o pai de um estimado colega, Cadete Ramos, atual general de Exército e comandante militar do Sudeste. Seu saudoso pai era coronel do Quadro de Magistério e foi vítima de um acidente fatal em uma das margens do Rio Paraíba, na cidade de Rezende. Foi um acontecimento terrível. Ao lado do coronel Mallebranche e outros dois oficiais, cuidamos do morto no necrotério. Contudo, o número de baixas não parou aí. Desgraças atingiram também colegas. A verdade é que a presença da morte não pode ser evitada nem dentro nem fora dos quartéis.

Guardo ótimas recordações do falecido coronel Ramos. Transmitiu um conhecimento humanista aos cadetes que formou. Para ele, o verdadeiro objetivo da Segurança Nacional era proteger as pessoas e suas vidas. Seu exemplo não deve ser esquecido pelos atuais comandantes militares.

A ingenuidade dos que defendem a intervenção militar é visível. Estão cegos pela busca de um poder ultrapassado. Os atuais dirigentes militares não estão interessados em massas de vítimas, em defesa do nada. A vida de um único brasileiro importa muito para os generais Ramos, Nardi, Freitas e Schons, que foram meus colegas de turma na Aman. Posso assegurar que não estão interessados no poder político. Exercem o comando militar para garantir a paz social e a nossa soberania.

Fonte: Correio do Estado 

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