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Artigo

As cartadas estratégicas de Kim Jong-un

Reis Friede é desembargador federal do TRF-2ª Região, professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), professor Honoris Causa na Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (ECEMAR), mestre e doutor em Direito

21 MAR 2018Por Redação/TR08h:00

A atual crise na península coreana – com o inédito anúncio de uma cúpula entre o presidente americano, Donald Trump, e o líder coreano, Kim Jong-un -- sugere diversas leituras. A mais importante delas – que é exatamente a que se baseia nas interpretações quanto às verdadeiras intenções de Kim Jong-un – tem sido constantemente ignorada. Com isso, subavalia-se o relativo protagonismo que a política externa, e a correspondente concepção estratégica, norte-coreana efetivamente conquistou no contexto geopolítico global, e não apenas no cenário regional.

A ascensão de incontestes líderes na Rússia (Vladimir Putin – 1999) e na China (XI Jinping – 2012), independentemente de matizes político-ideológicas, em contraposicão à ausência de uma reconhecida liderança norte-americana desde o fim da era Reagan (1981-1992, incluindo o governo de seu vice-presidente George Bush), tem conduzido o Ocidente pluralista a um longo e preocupante período de negligência estratégica que simplesmente “abriu as portas” para a concretização das ambições norte-coreanas de unificação de seu país, sob a égide de sua concepção política e de governança.

Os Estados Unidos e seus aliados parecem não perceber que a dinastia reinante na Coreia do Norte jamais desistiu de seu projeto unificador, atualmente em sua quarta tentativa, depois dos fracassados ensaios em 1950-1953 (Guerra da Coreia na qual um armistício declarou um provisório empate técnico nesta contenda); 1967-1968, com o episódio do sequestro do navio norte-americano Pueblo, articulado com a China e propositalmente coincidente com a ofensiva do Tet no Vietnã; 1975, com a invasão do Vietnã do Sul pelas forças norte-vietnamitas, ocasião em que Mao Tsé-Tung não avalizou a pretendida invasão da Coreia do Sul pelas tropas norte-coreanas; e o atual processo de nuclearização da Coreia do Norte, que tem por objetivo no contexto da determência estratégica neutralizar o guarda-chuva nuclear norte-americano que protege a Coreia do Sul, tornando-a, em consequência, refém de uma unificação forçada com base no conteúdo político-ideológico do Norte.

O desenvolvimento de mísseis de longo alcance pela Coreia do Norte tem um objetivo evidente: neutralizar o poderio norte-americano com ameaças para que a unificação sob a égide do Norte seja bem-sucedida, mantendo a dinastia de Kim Jong-un. É ingenuidade imaginar que sanções comerciais levarão o líder norte-coreano a desmilitarizar seu país e aceitar uma unificação sob a égide do Sul, com a promessa de uma possível voz ativa no governo. Isso representaria não só o fim da dinastia – e Kim Jong-un cresceu envolto no sonho de seu avô e de seu pai, de criar uma potência que rivalize com o Japão e, no futuro, até mesmo com China e EUA – como também significaria trair o povo que em nele confia e que o aprecia por seus supostos feitos (ou pelos feitos proclamados). De fato, a Coreia do Norte tem uma capacidade nuclear de ataque global que apenas três potências do mundo todo possuem: Estados Unidos, Rússia e China.

E como ficam os países do entorno, sob ameaça constante de um ataque, frente à posição do líder norte-coreano? Embora a China não deseje a unificação da Coreia, ela prefere que, caso seja inevitável, que se dê sob a égide ideológica do Norte e não sob a do Sul. Mas não deixa clara a sua posição porque teme uma eventual intervenção militar de Trump. O atual conflito coreano também beneficia a China, funcionando como uma cortina de fumaça: enquanto o mundo discute as supostas estratégias de Kim Jong-un, a China avança pelo Sul, se expandindo e criando ilhas artificiais, com bases militares, que vão permirtir a sua expansão até o Índico. Já a Coreia do Sul sabe que está sendo manipulada, mas o país tem um sistema político-eleitoral que faz com que seus líderes pensem mais em si do que no país. O Japão, que tem uma cultura pacifista em função dos acontecimentos históricos, é a principal incógnita. O país, nada satisfeito com a expansão chinesa e o aumento da sua influência econômica no mundo, vai agir? E se por outro lado a Coreia do Norte fizer um acordo com seu aliado histórico chamado Irã? Os peões estão se movendo sobre o tabuleiro e neste jogo as estratégias são perigosas. Que não termine em guerra.

Fonte: Jornal do Brasil

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