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Agrotóxico não existe, por Ciro Siqueira no blog Ambiente Inteiro

19 MAR 2018Por Redação/TR07h:22

Imagine a seguinte situação: Você acorda com dor de garanta. Vai ao médico e recebe uma receita de antinflamatório. A receita diz que você deve tomar um comprimido por dia durante cinco dias. Mas a sua garganta dói muito e você decide tomar três comprimidos por dia e o faz por dez dias.

Sabe o que você fez?

Você intoxicou o seu fígado porque não seguiu a recomendação do médico. Apesar disso, você não chama antinflamatório de hepatotóxico, chama?

Não chama porque não é. Antinflamatório é um remédio que pode ser tóxico se não for usado de acordo com as recomendações médicas.

O mesmo raciocínio vale para os chamados agrotóxicos.

Nenhum agrotóxico pode ser vendido sem um receituário agronômico. O receituário traz todas as orientações necessárias a utilização do produto. Uma vez utilizados de acordo com as orientações do engenheiro agrônomo expressas no receituário o produto não faz mal nenhum, nem para as pessoas, nem para as plantas, nem para o ambiente.

Mas qual a razão do termo agrotóxico?

Para entender isso é necessário voltar um pouco no tempo. Nos anos 60 um engenheiro agrônomo chamado Norman Bourlaug popularizou um pacote tecnológico que multiplicou a capacidade de produção de alimentos do mundo rural. Bourlaug reuniu tecnologias que já existiam em um pacote que foi amplamente disseminado.

Isso ficou conhecido como Revolução Verde e deu a Bourlaug um Prêmio Nobel na Paz por conta do número de vidas salvas da fome em decorrência do salto produtivo alcançado. Naquele momento histórico a humanidade passava pelo receio de não conseguir alimentar a população do globo que crescia a taxas mais elevadas do que a capacidade de produção agrícola.

Uma parte importante do arranjo tecnológico idealizado por Bourlaug foi a utilização de insumos industrializados, entre eles os adubos e herbicidas e inseticidas químicos.

Mas lembrem que estamos falando dos anos 60. Há meio século atrás o mundo rural era feito por agricultores que, em grande medida, eram analfabetos e de baixa instrução.

Como você faz um agricultor de baixa instrução manusear um produto com cuidado, se ele não consegue ler ou compreender uma orientação mais complexa?

Uma forma eficiente de fazer isso é amedrontá-lo. Deixar o produtor rural com medo do produto era uma forma bastante eficiente de fazê-lo ter cuidado no manuseio.

Por essa razão os baldes de agroquímicos eram sempre pintados com faixas de cores fortes como amarelo e vermelho. Por isso, os produtos vinham com caveiras e ossos cruzados desenhadas no recipiente. E é por conta dessa necessidade que se utilizou o termo agrotóxico. Era um alerta ao produtor, não um vaticínio.

O agricultor sem instrução dos anos 60 precisava temer o produtor para manuseá-lo com cuidado, para não reutilizar as embalagens, para não permitir que seus filhos nem seus animais domésticos brincassem com os produtos.

Mas hoje, mais de meio século depois da Revolução Verde de Norman Bourlaug, a agricultura é feita, em grande medida, por agricultores instruídos. Todos conhecem a importância do manuseio cauteloso de insumos químicos na agropecuária.

O temo agrotóxico hoje serve apenas para ser usado por quem detrata o setor rural. A utilidade que ele teve no passado se perdeu no tempo. Não existe mais.

Revolução Tecnológica

Foto:  Reprodução Notícias Agrícolas

A imagem mostra a evolução dos telefones celulares. Os primeiros celulares eram aparelho gigantes, com baterias pesadas que duravam pouco e permitiam apenas ligações por tempo e distância limitados.

Hoje usamos smartphones muito menores, com baterias leves que duram bastante tempo e fazem não apenas ligações, mas enviam mensagens de voz e vídeo, pagam contas, tocam músicas, guiam sua rota pela cidade, chamam táxis, além de centenas de outras funções.

Com as moléculas de agroquímicos usadas na agricultura não é muito diferente. Aliás, as moléculas químicas têm muito mais tempo de pesquisa do que os telefones celulares.

As substâncias usadas hoje não são as mesmas usadas no passado. Com o tempo, a pesquisa produziu e selecionou substâncias muitos mais seguras do que aquelas utilizadas no passado. A forma de aplicação também evoluiu muito.

Algumas substâncias são levadas ao campo diretamente pelo DNA das plantas agrícolas sem que seja necessário a pulverização. É o caso do Bacillus thuringiensis, um inseticida natural utilizado no controle de lagartas.

No passado, na época pré-celular, o Bacillus thuringiensis precisava ser diluído em água e pulverizado nas lavouras. Isso combatia as lagartas daninhas aos cultivos, mas afetava colateralmente outras lagartas que eventualmente fossem atingidas pela pulverização.

Hoje, o princípio ativo do Bacillus thuringiensis que afeta as lagartas é levado ao campo através do DNA de algumas plantas. Dessa forma, apenas as lagartas que comem as plantas cultivadas são destruídas pela bactéria. Outras lagartas não são afetadas.

Esse é apenas um exemplo. Existem moléculas desenhadas para terem pouca mobilidade no solo de forma a impedir que elas percolem ou escorram atingindo mananciais de água caso sejam aplicadas incorretamente. Existem moléculas desenhadas para degradar logo depois da aplicação diminuindo efeitos residuais indesejados. Os produtos usados hoje não são apenas agroquímicos, são smart-agroquímicos.

Aliás, agroquímico custa caro

Em certas situações as pulverizações de agroquímicos alcançam 30% do custo de uma lavoura. Se pudesse, o agricultor não gastaria esse dinheiro.

Reduzir custos é uma luta diária do produtor rural. Quanto menos produto químico ele jogar na lavoura sem perder produção, maior é o lucro. O produtor faz o que pode para usar a menor quantidade de agroquímicos possível.

Mas o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo?

Nós já vimos que agrotóxico não existe, portanto é necessário refazer a pergunta. Mas o Brasil é o maior usuário de agroquímicos do mundo?

O Brasil é o único grande player agrícola do mundo situado na zona tropical do planeta. Estados Unidos, Canadá, Argentina, Austrália, os países bálticos e a Europa estão todos em zonas sub tropicais do globo.

Isso significa que esses países, ao contrário do Brasil, possuem temperaturas mais amenas na maior parte do tempo e quatro estações bem definidas ao longo do ano: primavera, verão, outono e um inverno frio. O clima seco e as temperaturas frias do inverno eliminam pragas e doenças naturalmente.

Doença de lavoura é diferente de doença de gente. Nos animais, a boa parte das doenças é causada por vírus ou bactérias. Nas lavouras, as principais perdas são causadas por fungos, insetos e pela competição com outras plantas, nenhum dos três convive bem com o frio.

O Brasil não tem inverno frio. Pelo contrário, no Brasil temos temperaturas elevadas ao longo de ano inteiro. Temos ainda outra característica que nos diferencia dos nossos concorrentes sub tropicais, muita chuva.

Calor e umidade são condições que favorecem o crescimento e o desenvolvimento de ervas daninhas, insetos e fungos. É por essa razão que o queijo cria mofo fora da geladeira. Mofo é um fungo e o clima dentro da geladeira é frio e seco, como o inverno subtropical. Quando você tira o queijo da geladeira e põe ele no calor e na umidade do lado de fora, o mofo aparece.

Por conta do calor e da umidade, nenhum outro país entre os grandes produtores agrícolas do mundo tem tanto trabalho para garantir a saúde das lavouras quanto o Brasil.

Nessas condições, a agricultura tropical brasileira é responsável por grande parte do alimento produzido no mundo, portanto é natural que sejamos um grande consumidor de agroquímicos.

Como vimos, os agroquímicos são muito menos perigosos do que dizem.

Fonte: Notícias Agrícolas

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